Violência e falência do Estado


Há poucos dias atrás, o Governador Simão Jatene falou na televisão sobre a situação de violência em que o Estado está mergulhado. Sua fala beirou o cinismo. Disse que o problema existe há tempos ( esqueceu de falar que ele está há mais de 20 anos governando nosso Estado), que é intriga da oposição por razões eleitoreiras, que está tudo sendo maximizado, que o caos não está instalado! Citou um monte de concursos já realizados para área de segurança pública, armas e uniformes que comprou e terminou pedindo, pasmem, a ajuda da população para combater a violência!!!!!


Esse discurso além de me dar náuseas me fez pensar novamente nas razões que nos levaram a esse estado de coisas. Lembrei que desde 1994 o PSDB comanda nosso Estado, com uma breve interrupção de 04 anos, que em nada mudou as coisas. Procurei lembrar como era a vida da população em Belém na década de 90 e na primeira década dos anos 2000, buscando entender em que a momento as coisas desandaram. Naqueles tempos, Belém não era uma cidade sem crimes, mas ainda era possível andar nas ruas sem medo, sentar em um barzinho, passear na praça, ter uma sensação de segurança.

Tudo começou a ficar pior com a melhora da economia no Brasil.  Foi a fase da euforia, do consumo desenfreado, da abertura de shoppings centers, das promoções para compra de celular, das Olimpíadas do Rio (2010) e da Copa do Mundo (2014). Muito dinheiro entrou com a exportação de recursos primários ( dentre eles, nosso ferro de Carajás) e muito dinheiro saiu com a corrupção. O governo gastava, principalmente em propaganda, buscando incutir na população a falsa impressão que vivíamos  tempos maravilhosos e, principalmente, que isso era devido ao trabalhos dos dirigentes. Enquanto o povo da classe econômica mais baixa se embriagava com a onda de consumismo desenfreado e a classe média e, especialmente, a chamada elite, se dedicava a incorporar padrões de consumo de primeiro mundo, o narcotráfico se instalava em nosso país, em nosso Estado. 

Segundo estudos,  o narcotráfico associou-se e pôde nutrir-se das mudanças e dos problemas que acometem a sociedade brasileira, como por exemplo, o enfraquecimento do Estado, o aumento do desemprego, do subemprego com correspondente incremento e diversificação da economia informal em todo o país. Vale dizer, a deterioração da condição econômica e social de parte da população, a marginalização crescente de segmentos sociais no processo de desenvolvimento, o intenso crescimento dos centros urbanos  e, por último, a incorporação de camadas populares ao mundo do consumo de drogas anteriormente reservado principalmente a pessoas das classes média e alta. 

São os jovens das camadas mais populares da população os maiores alvos do crime organizado. São eles que roubam e matam nos assaltos nas ruas, nos comércios. Todos em busca de dinheiro fácil e rápido para alimentar o vício e manter a vida desregrada que levam.

Como mudar esse quadro se o Estado do Pará está entre os de pior gestão no Brasil; a) Estamos dentre os piores na educação: Nossos índices do IDEB estão abaixo da média regional e nacional; b) Estamos dentre os piores nos índices de violência: Segundo o Atlas da Violência, o Pará é o 5º Estado mais violento do Brasil; c) Estamos dentre os piores em saneamento básico: segundo o Instituto Trata Brasil, há, no Pará, apenas 1,18% de tratamento de esgoto, 4,92% de coleta de esgoto, 47,10% de rede de água e a perda de água é 39,72%; d) A Região Metropolitana de Belém possui o maior déficit habitacional do país; e) O Estado do Pará é campeão no ranking do trabalho escravo. No quesito violência,  segundo o Atlas da Violência 2017,  o Pará chegou a 2015 com uma taxa de 45 homicídios para cada 100 mil habitantes, aumento de 62,7% em relação a 2005. Um estudo realizado pela Unesco (publicado em 2017) mostra que as principais vítimas de assassinatos no Brasil são os jovens negros. O Pará é o terceiro estado mais violento. As prisões são superlotadas. Quase 50% dos presos não foram ainda julgados. O contrato de alimentação dos presos é um dos maiores do Estado ( quase 100 milhões de reais ao ano).

Esses índices falam por si só e explicam a razão de termos chegado até aqui: A incapacidade e inoperância do próprio Estado no cumprimento de muitas de suas funções básicas em matéria de prevenção e repressão, no desenvolvimento de políticas públicas voltadas para os jovens, notadamente aqueles das camadas mais carentes da população e o alastramento da corrupção, disseminada nas esferas pública e privada são o terreno fértil para a instalação de uma sociedade desigual e, consequentemente, violenta. 

Esse é o retrato do Estado do Pará, um Estado dirigido há mais de duas décadas por pessoas que direcionam suas ações visando apenas dois interesses: o seu próprio e dos que lhes são próximos, os chamados "amigos do Rei".

A fala do Governador em muito lembrou a posição do Rei Luis XVI, instalado no luxo de Versalhes , cego e surdo aos clamores do povo, que morria de fome nas ruas de Paris.

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